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O governo federal vai monitorar em tempo real a circulação de conteúdos antivacina nas redes sociais, disponibilizando esses dados ao público em um painel aberto e usando as informações coletadas para publicar estudos, combater a hesitação vacinal e responsabilizar grupos antivaxxers.
O mapeamento inclui o desenvolvimento de ferramentas de extração de dados de YouTube, Telegram, Instagram, Facebook, Google, Twitter/X e WhatsApp, segundo documentos do Ministério da Saúde (MS) obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) pelo Núcleo.
Redes sociais "alternativas" conhecidas por atraírem grupos radicais devido à falta de moderação de conteúdo e que são muito usadas por antivaxxers, como Bitchute ou Gettr, não devem ser monitoradas.
É ✷ importante ✷ porque...
Governo vai criar ferramentas para monitorar desinformação antivacina nas redes sociais em tempo real
Desinformação antivaxx nas redes propaga hesitação vacinal e sabota os índices de imunização, logo favorece a disseminação de doenças
Antivacinas usam redes sociais para espalhar mentiras no Brasil ao menos desde 2017, relata Abin
A parceria para desenvolver o projeto foi firmada entre o MS e o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), ao custo de R$12,1 milhões
.
O acordo entre as pastas prevê a conclusão até o fim de 2026 de nove metas, que incluem, entre outras coisas:
- a elaboração de informes sobre desinformação antivaxx nas redes;
- uma nova infraestrutura para bancos de dados sobre imunização;
- e estudos sobre "debate digital e hesitação vacinal" que possam orientar políticas públicas.
Veja as metas previstas para o projeto até 2026
- Construção de infraestruturas que permitam disponibilizar bancos de dados sobre vigilância em saúde ao público até dezembro de 2026 (custo de R$ 3,19 mi);
- Elaboração de informes diários sobre desinformação vacinal do início da parceria até dezembro de 2025 (R$ 2,75 mi);
- Desenvolvimento de ferramentas de coleta, processamento e visualização de dados sobre hesitação vacinal em plataformas digitais até junho de 2025, inclusive uma API (R$2,59 mi);
- Elaboração de um diagnóstico sobre a hesitação vacinal pós-covid no país até o fim de 2025 (R$ 1,15 mi);
- Disseminação de resultados do projeto a partir de junho deste ano até o fim da parceria (R$ 912 mil);
- Realização e publicação de estudo sobre "hesitação vacinal e debate digital" em revista científica estrangeira de alto impacto, com participação em congressos (R$ 710 mil);
- Identificação de padrões nas narrativas e conteúdos de desinformação antivacina coletados pelo Ministério da Saúde (R$ 378 mil);
- Mensuração da repercussão digital das campanhas de vacinação do Ministério da Saúde (R$ 338 mil);
- Testagem de argumentos, campanhas e discursos que diminuam a hesitação vacinal (R$ 114 mil).
QUEDA NAS COBERTURAS VACINAIS. Para justificar o investimento no projeto, o Ministério da Saúde afirmou que o Brasil vinha registrando quedas em suas coberturas vacinais desde 2015.
"Um dos fatores que várias pesquisas indicam para essa queda é a desinformação e a proliferação de discursos negacionistas potencializados por meio das redes sociais digitais", afirma a pasta, que lembra que o cenário piorou a partir da pandemia, em 2020.
Tal realidade, associada a posicionamentos antivacina de alguns gestores públicos, fez com que milhões de brasileiros deixassem de se vacinar contra a covid-19
– Justificativa do Ministério da Saúde
Antivacinas começaram em grupos do Facebook
Antes da pandemia da covid-19 e do governo Bolsonaro, que propulsionaram o movimento no país, antivaxxers brasileiros se limitavam a vários pequenos grupos do Facebook que somavam pouco mais de 18 mil membros.
O dado consta em um relatório de agosto de 2017 sobre o "panorama preliminar do movimento antivacinal no Brasil", produzido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e obtido via LAI pelo Núcleo.
Os participantes desses grupos eram contrários principalmente à imunização de crianças, incentivavam as pessoas a não vacinarem familiares e veiculavam dicas sobre como burlar a exigência da vacinação infantil para matrícula escolar.
Texto Pedro Nakamura
Arte Heloisa Botelho
Edição Sérgio Spagnuolo
Texto atualizado às 17h39 de 13.mar.2024 para corrigir termo utilizado no segundo parágrafo e na linha fina. O termo "raspagem" foi utilizado erroneamente como sinônimo de "extração de dados". A raspagem é feita via interface de uma aplicação, enquanto uma extração pode ser feita de outras formas, como via APIs e downloads diretos.