Twitter está naufragando e (ainda) não há lugar para correr

Para quem realmente acompanha o assunto, não há muita dúvida de que Elon Musk está afundando o Twitter
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Arte Rodolfo Almeida
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Linha Fina é uma coluna de opinião sobre mídia e jornalismo

O Twitter nunca foi a maior rede social, tampouco a melhor, mas de uma forma ou de outra era a rede que pautava as outras redes, o noticiário, o debate político e até orientava decisões de presidentes.

Há dois motivos para isso.

1. o formato da rede – baseado principalmente em texto e na facilidade de compartilhamento – permite dinamismo, imediatismo e impulsionamento

2. a facilidade de encontrar conteúdos e entender tendências.

Embora esses dois elementos principais ainda estejam presentes no Twitter, uma série de mudanças implementadas nos últimos 10 meses pelo por seu dono, Elon Musk, têm tornado a rede social cada vez mais inviável.

Seja o fim da marca Twitter, os bugs na plataforma, a dificuldade de ver tweets sem fazer login (não mostra fios, não toca vídeos direito etc), a queda generalizada no engajamento, a obliteração de qualquer política de moderação de conteúdo ou a transformação da plataforma em um aterro sanitário de selos azuis postando sobre inteligência artificial e golpes de criptomoedas, o Twitter piorou muito nos últimos meses. (Daria pra listar muito mais motivos se eu tivesse o dia todo)

Claro, tem um monte de gente aí, especialmente fan boys do Musk (os Musketes), que acreditam que o cara tá revolucionando as redes sociais e a liberdade de expressão.

Para quem realmente acompanha o assunto, não há muita dúvida de que Elon Musk está afundando o Twitter.

Então como o Twitter ainda está de pé?

Primeiramente, porque Musk é bilionário e está segurando as pontas, mesmo com a empresa sangrando dinheiro rapidamente. Ele comprou por US$44 bilhões uma empresa que agora vale um terço disso, e não deve abandonar o barco enquanto houver alguma chance de salvá-lo (por menor que pareça).

Em segundo lugar, porque muitos perfis populares e de organizações construíram bases de seguidores lá (basicamente um ativo digital) e não podem simplesmente abandonar isso. Veja o caso do Núcleo: temos 17,3 mil seguidores no Twitter, enquanto nossa segunda maior rede social em número de seguidores é o LinkedIn, com pouco mais de 4,5 mil.

Por fim, porque simplesmente ainda não há alternativa viável.

As redes da Meta são muito boas para o que se propõe (criar comunidades, vender anúncios e sugar dados de usuários), mas certamente não são desenhadas para discutir o noticiário em tempo real – a não ser que seu conceito de "tempo real" seja os algoritmos de Facebook ou Instagram entregarem uma notícia 8 horas depois de publicada, entre uma foto dos seus sobrinhos e um belo vídeo de carbonara.

A melhor opção da Meta, a Threads, certamente ainda não está pronta. Embora seja parecida na forma (uma rede de textos e fios), já foi deixado claro que essa plataforma não é destinada a política nem a jornalistas, o que automaticamente já tira boa parte do apelo noticioso da coisa toda.

A Threads é tão ruim para notícias que sequer possui (por enquanto) um mecanismo de buscas por assunto ou uma forma de encontrar trending topics. Embora um recurso de busca esteja a caminho, nada indica que vai priorizar notícias em vez de outros conteúdos mais amenos (a expectativa é que a busca seja algo tipo o Instagram).

Além disso, muitos usuários do Twitter teriam que começar a construir do zero uma presença na Threads, com o agravante de que a concorrência por atenção lá já está toda tomada. Diferentemente de outras redes novas, nas quais todo mundo começa do zero, na Threads é possível importar seguidores do Instagram, o que coloca muitas pessoas à frente de quem nunca investiu tempo no Instagram.

O Mastodon (construído com o mesmo protocolo descentralizado que o Threads usa) é uma ideia interessante no conceito, mas a interface ainda é incrivelmente arcana. É difícil encontrar as coisas e até mesmo quem seguir lá dentro, e o chamado fediverso (grupo de redes sociais com o mesmo protocolo) é uma zona, cheia de tretinhas entre diferentes comunidades.

O Bluesky é uma cópia um pouco mais próxima do Twitter, mas ainda está bem pouco polida e a entrada de novos usuários a conta-gotas certamente não tem favorecido uma migração em massa.

Outras redes como Nostr, Spill, Birda e Post eu nunca usei e tampouco conheço quem usa.

A busca por alternativas está tão feia que tem gente compartilhando notícias e fotos de casamento no LinkedIn, talvez a rede mais cringe de todas.

Antes o Twitter era primeira rede social que eu via de manhã, e a última coisa que eu bisbilhotava antes de dormir. Agora a utilidade dessa rede social pra mim é nenhuma. A plataforma está lenta e estavelmente naufragando e não há nenhum lugar, pelo menos ainda, no qual seus usuários possam se refugiar.

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