Recomendações do YouTube priorizaram vídeos com críticas ao PL 2630, mostra relatório

Pesquisadores identificam viés negativo em recomendações de vídeos sobre o PL, com perspectivas das Big Techs e de canais bolsonaristas
Recomendações do YouTube priorizaram vídeos com críticas ao PL 2630, mostra relatório
Arte Rodolfo Almeida
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O sistema de recomendações do YouTube priorizou vídeos com críticas negativas ao PL 2630, o chamado PL das Fake News (ou PL da Censura, como a direita chama), em detrimento de canais com visões positivas ao projeto, de acordo com uma nova pesquisa.

O estudo simulou várias experiências possíveis apresentadas a usuários da plataforma ao buscar informações sobre o projeto de lei, bem como as recomendações do próprio site após a visualização de cada vídeo.

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O PL 2630/2020, cujo nome oficial é Projeto de Lei de Responsabilidade e Transparência para Plataformas Digitais, foi proposto originalmente pelo senador Alessandro Vieira (PSDB-SE). A lei visa regular o funcionamento de plataformas digitais e aplicativos de mensagem no Brasil e estabelece uma série de obrigações para as empresas provedoras.

O projeto é comumente chamado de PL das Fake News, embora algumas pessoas não gostem do termo por não mais ter combate à desinformação como ponto principal.

Na Câmara, o projeto tem a relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).

>> Acompanhe o PL neste link.

>> Cobertura de regulação do Núcleo.

Simulações

Para entender o complexo algoritmo de recomendação da plataforma, os pesquisadores Ana Bernardi (FESPSP e FipeEES) e João Guilherme Bastos dos Santos (do INCT.DD) realizaram buscas diárias sobre o tema durante um certo período usando a ferramenta Youtube Data Tools. 

Os resultados foram aglomerados em clusters (grupos), identificados com base nas recomendações entre os vídeos, sendo originados de conexões feitas pela própria plataforma.

Segundo Bernardi, muitos dos vídeos mais recomendados eram de canais que não cobriam o assunto, mas passaram a fazer no mesmo período em que as Big Techs faziam lobby pesado para barrar o PL 2630, inclusive contatando produtores de conteúdo para falar sobre o tema.

“O agrupamento que aparecia em primeiro lugar era o ‘Big Techs vs. PL 2630’, centrado em discutir como as empresas do setor estão preocupadas com os produtores de conteúdo, seguido por vídeos do cluster Reportagens e PL da Censura, onde majoritariamente apontavam o PL 2630 como um projeto de censura”, explicou.

O outro autor da pesquisa, Santos disse ao Núcleo que um resultado que chamou a atenção nessa interação entre agrupamentos, buscas e recomendações foi que as pessoas tendem a ter dentre os resultados mais destacados de busca o grupo que fala mais sobre o lado das Big Techs sobre o PL.

“Então você tem um mecanismo em que os dois principais sistemas de busca e de recomendação favorecem a perspectiva das Big Techs e, quando desvia, vai pro cluster ‘PL da Censura’, que é uma discussão mais radicalizada que favorece mais a perspectiva relacionada à extrema-direita”, disse ele.

Essa não é a primeira vez que o sistema de recomendação do Youtube é alvo desse tipo de escrutínio. Mais recentemente, outro relatório divulgado pelo Núcleo expôs como o YouTube recomenda vídeos de violência em escolas para gamers.

YouTube recomenda vídeos de violência em escolas para gamers
A plataforma recomendou até 10 vezes mais vídeos violentos para usuários que interagiram com as recomendações, de acordo com a Tech Transparency Project

Habilidade da direita

Dessa vez, não se trata de uma aparente incapacidade da plataforma de lidar com conteúdos extremistas e violentos, mas sim de uma mobilização conjunta de canais vinculados à direita política que pode estar desequilibrando o algoritmo (já pouco transparente) de recomendação da plataforma.

“A extrema-direita tem sido muito hábil nas redes sociais, especialmente no YouTube  os números de visualizações e curtidas dos canais de extrema-direita são bastante altos, o que influencia em eles serem mais recomendados em uma ampla gama de assuntos", disse Bernardi ao Núcleo.

"Eles também tem uma boa estratégia multiplataforma de divulgação de conteúdo e divulgação bastante ativa e coordenada de pautas que são importantes para o movimento."

Esse desequilíbrio, por sua vez, não é algo novo dentro do contexto da discussão do projeto de lei em outras gigantes da Big Tech. O Núcleo já publicou que outras empresas de redes sociais também privilegiam conteúdos contrários ao PL, seja direta ou indiretamente. 

De 30 anúncios veiculados sobre o PL 2630 no Facebook e Instagram, 28 eram negativos e atrelam o projeto de lei a uma tentativa de censura, segundo dados da Biblioteca de Anúncios da própria Meta. Já a ByteDance, dona do TikTok, igualmente sugeriu em seu sistema de recomendação conteúdos desinformativos sobre o projeto de lei.

Anúncios contrários ao PL 2630 dominam em redes da Meta
Ao menos 5 anúncios trazem falso argumento de que projeto de lei implicaria em censura religiosa
TikTok recomenda conteúdo desinformativo sobre PL 2630
9 de 10 vídeos sugeridos pelo TikTok na hashtag #PL2630 possuem desinformação sobre o projeto de lei
Por Leonardo Coelho
Edição Sérgio Spagnuolo

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