O Facebook fez um tremendo esforço técnico para bisbilhotar o comportamento de usuários em outros aplicativos, principalmente o Snapchat, a fim de obter vantagens competitivas sobre seus concorrentes, de acordo com um processo de 2020 cujos documentos foram relevados nesta semana.
Em 2016, a empresa (que agora se chama Meta) lançou um projeto para interceptar, descriptografar e monitorar o tráfego de usuários de Snapchat, YouTube e Amazon, segundo uma ação coletiva iniciada por consumidores na Califórnia.
O processo, cujo sigilo de vários documentos foi removido nesta semana, alega que o Facebook realizou práticas anticompetitivas e explorou dados de usuários de forma enganosa.
CAÇA-FANTASMAS. Um dos documentos indica que a Meta implementou o “Projeto Caça-Fantasmas” (Ghostbusters), possivelmente em alusão ao logo do Snapchat, visando “interceptar e descriptografar” o tráfego criptografado de usuários dos concorrentes.
Emails do CEO da Meta, Mark Zuckerberg, incluídos no processo, mostram que ele orientou funcionários a buscarem métodos para “obter análises confiáveis” do Snapchat, que à época crescia rapidamente.
A solução encontrada por seus engenheiros foi utilizar o Onavo – um serviço de VPN (uma forma de acessar sites e apps via um serviço oferecido por terceiros) adquirido pelo Facebook em 2013 e fechado em 2019.
INTERMEDIÁRIO. Como o tráfego do Snapchat é criptografado, a bisbilhotagem por meio do Onavo foi viável porque a ferramenta instalava recursos diretamente em celulares (tanto Android quanto iOS), conseguindo interceptar o tráfego de rede antes que a criptografia fosse ativada.
Sabendo disso, o Facebook expandiu o programa para coletar dados dos usuários da Amazon e do YouTube, de acordo com os documentos.
PANORAMA. O Onavo foi descontinuado em 2019 devido a acusações de monitoramento de dados pelo Facebook para obtenção de análises de mercado e informações sobre concorrentes.
Em 2017, o Wall Street Journal revelou que o Facebook, através de análises com dados do Onavo, descobriu que as pessoas usavam mais o WhatsApp do que o Facebook Messenger, o que levou à compra da empresa em 2014 por US$ 22 bilhões.
NÃO PASSOU BATIDO. Segundo os documentos internos, até mesmo funcionários do setor de segurança e infraestrutura do Facebook expressaram preocupações com análise do tráfego de concorrentes.
Eles argumentaram que, independentemente do consentimento dos usuários, o “público em geral simplesmente não sabe como essas coisas funcionam”.
Via Techcrunch (em inglês)