Rede de diplomatas questionou corrida por novos produtos de IA

Em evento de rede de diplomacia tecnológica, especialistas disseram que "corrida pela IA" levou a investimentos que negligenciam uso ético

Diplomatas de países ocidentais debatiam, no início de 2023, os riscos associados à pressa da Big Techs em lançar e monetizar novos produtos de inteligência artificial sem antes garantir que são seguros, mostram telegramas do Itamaraty obtidos pelo Núcleo via Lei de Acesso à Informação (LAI).

As preocupações foram discutidas em fev.2023 daquele ano, durante o lançamento da Tech Diplomacy Network, uma rede global de diplomacia tecnológica que reúne oficiais de consulados e embaixadas localizadas nos arredores do Vale do Silício, na área da Baía de São Francisco, nos EUA.

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O que é a Tech Diplomacy Network? Lançada por iniciativa de Áustria, Noruega e do Fórum Econômico Mundial, a rede reúne postos diplomáticos sediados no Vale do Silício. A meta é conectar diplomatas, empresários e pesquisadores para criar uma comunidade global de especialistas interessados em diplomacia tecnológica.

RISCO. Na ocasião, um painel que reuniu representantes de Áustria, Canadá, Noruega e do Fórum Econômico Mundial, além da pesquisadora norte-americana Alexis Wichowski, discutiu o tema "diplomacia tecnológica e governança".

CORRIDA TECNOLÓGICA. De acordo com os especialistas, naquele momento, o acirramento da "corrida pela IA" levou "companhias a investir em novas aplicações práticas com valor de mercado", mas nem sempre com cuidado a usos éticos e responsáveis da tecnologia, segundo os telegramas.

"A ânsia por lançar novos produtos e monetizá-los rapidamente pode resultar na difusão para o grande público de sistemas ainda imaturos e pouco confiáveis", alertaram na ocasião os palestrantes.

VÁCUO DE REGRAS. Os diplomatas também demonstraram preocupação com o "vácuo normativo" atual, no qual ainda não há regras internacionais para o uso da inteligência artificial.

Se os Estados não se coordenarem para criar uma governança global que considere um perspectiva multissetorial, pode surgir "um cenário de fragmentação, no qual blocos [de países] opostos adotariam regras mutuamente incompatíveis", avaliaram.

Diante desse vácuo regulatório, a "mentalidade disruptiva típica do Vale do Silício ('Move fast and break things') não parece ser a abordagem mais aconselhável diante das implicações decorrentes do desenvolvimento vertiginoso da IA", relatam os telegramas.

"Às empresas, seria recomendável, neste momento incerto e delicado, uma atitude um pouco mais cautelosa: 'Move slowly and dont break anything'", consideraram os especialistas.

No mês seguinte ao lançamento da Tech Diplomacy Network, em mar.2023, bilionários do setor e pesquisadores publicaram uma carta aberta que pedia por uma pausa de seis meses no desenvolvimento de IAs mais avançadas que o GPT-4.

O evento foi relatado ao Itamaraty pelo diplomata de tecnologia brasileiro Eugênio Garcia, que integra a Tech Diplomacy Network e já afirmou ao Núcleo que regular plataformas e IA se tornou um desafio global.

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Por Pedro Nakamura
Edição Sérgio Spagnuolo

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