O caos imperou no Twitter essa semana. E não foi pouco

A semana foi brutal: demissões em massa, êxodo de executivos, novas políticas de verificação e até ameaça de falência
O caos imperou no Twitter essa semana. E não foi pouco
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Desde abril o mundo da tecnologia acompanha a comédia dramática envolvendo o Twitter e seu novo dono, Elon Musk. E esta última semana aparentemente foi o ápice desta novela, com uma série de desdobramentos que estão afetando não apenas os negócios, mas também o próprio funcionamento da rede social.


É importante porque...

Embora o Twitter não seja a maior rede social, ele conecta 300 milhões de usuários e é utilizado como termômetro sobre diversos assuntos, frequentemente pautando outras redes sociais e informando políticos, repercutindo a economia, orientando políticas públicas e avançando o ciclo noticioso

Muitas pessoas recorrem ao Twitter como fonte de informação imediata e rápida, e o selo de verificação era uma garantia de que elas estariam lendo conteúdos das próprias fontes, não de fakes

Essa novela tem sido um assunto muito comentado nas redes e nos veículos de notícia do mundo todo


Aconteceu tanta coisa que é necessário resumir em alguns bullets cada um dos passos:

  • Demissões em massa
  • Êxodo de executivos
  • Mudanças de políticas de verificação
  • Dúvidas sobre o futuro da empresa
Gráfico Interativo - arraste para direita

1. Demissões em massa

Musk aparentemente nunca gostou muito dos funcionários do Twitter.

Mesmo antes de assumir a empresa, ele criticava o produto e as pessoas que trabalhavam lá.

Em abril, quando a oferta ainda estava em análise, ele fez críticas à então executiva de políticas públicas do Twitter, Vijaya Gadde, e ela virou alvo das hordas online de seus seguidores. Ele também já ofendeu o ex-CEO do Twitter Parag Agrawal, ao usar um emoji de cocô para se referir a ele.

Obviamente, quando assumiu a empresa no fim de outubro, o bilionário demitiu ambos imediatamente, junto a outros dois altos executivos (o diretor financeiro Ned Segal e o chefe do jurídico Sean Edgett).

Esse foi apenas um gostinho da carnificina que estava por vir.

Na segunda-feira seguinte (31.out) corriam rumores de que Musk poderia demitir até 75% da força de trabalho do Twitter.

De quinta para sexta-feira, cerca de 3.500 funcionários (metade do quadro de funcionários) receberam um email impessoal falando que eram redundantes na organização e cortando seus acessos a todos os sistemas internos – efetivamente demitidos de seus cargos. O Brasil foi um dos países afetados.

No fim de semana, foi noticiado que Musk, entendendo que pesou demais a mão, tentava recontratar alguns funcionários demitidos, já que a empresa não poderia funcionar sem mão-de-obra.

Para os que não foram demitidos, sobrou o gosto amargo de trabalhar numa terra arrasada, com muitas horas de trabalho pela frente e com políticas de RH da empresa (como trabalho remoto, em prática até antes da pandemia) sendo efetivamente canceladas.

Musk chegou até a dizer que quem não fosse capaz de "fisicamente" voltar ao escritório seria demitido.

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2. Êxodo de executivos

A demissão de muitos executivos foi acompanhada, poucos dias depois, da saída de outras pessoas fundamentais para a organização.

Uma delas foi Yoel Roth, um veterano de Twitter e chefe de segurança da plataforma. Outra foi Robin Wheeler, chefe de vendas do Twitter – pouco após anunciar sua saída, Musk a convenceu a continuar na empresa. Wheeler anunciou no Twitter que permanecia lá.

Outros executivos que deixaram a empresa nesta semana, segundo o New York Times, foram:

  • Kathleen Pacini, chefe de recursos humanos;
  • Lea Kissner, chefe de segurança da informação;
  • Damien Kieran, chefe de privacidade;
  • Marianne Fogarty, chefe de compliance.

A dúvida que sobra é como a empresa será administrada com um desfalque tão grande de executivos.

3. Mudanças no selo de verificação

Um dos principais pontos por trás dessa confusão estava um cobiçado e, até então aparentemente inofensivo, selo de verificação. Acontece que esse recurso – cuja distribuição pelo Twitter e outras plataformas sempre foi uma bagunça – provou-se mais importante do que realmente é.

Não demoraram a surgir fakes verificados se fazendo se passar por políticos, empresas, personalidades e até pelo próprio Elon Musk. Houve tentativas de golpe, brincadeiras e memes de gente que desembolsou US$8 pelo selo azul em uma assinatura mensal do Twitter Blue (só disponível em países de língua inglesa).

Mas toda essa farra teve um preço de negócios para o Twitter – e para Musk. Muitos anunciantes (principal forma de receita da empresa) estão apreensivos com os novos rumos do produto, ainda mais com contas falsas circulando à vontade com selo de verificado que podem fazer se passar por elas, como tem acontecido nos últimos dias.

Também pesa o fato de que a retórica de Musk sobre liberdade de expressão tem sido elogiada pela extrema-direita, que enxergou na plataforma um porto-seguro para discursos anti-democrático e de ódio contra minorias e grupos desfavorecidos.

Menções a termos racistas em inglês contra negros triplicou nas últimas semanas, segundo relatório do Center for Countering Digital Hate. O uso de termos contra pessoas trans e homossexuais também disparou.

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O próprio Elon Musk tem sido bastante prolífico no Twitter sobre seus planos (e desfeitas de planos, e retomadas de planos desfeitos) para a rede social, muitas vezes pegando de surpresa seus próprios funcionários com mudanças de rumo já tomadas.

Um deles foi a criação de um selo alternativo de verificação, cinza, que seria aplicado a governos, empresas, veículos de imprensa e personalidades, em oposição ao selo azul, que deixou de ser verificação para ser apenas um símbolo de assinante.

No dia seguinte à revelação de como seria o selo cinza, Musk simplesmente cancelou sua implementação, embora ela já tivesse sido aplicada em vários perfis, inclusive no Brasil.

Pra aumentar a confusão, houve mais uma reviravolta e o selo cinza de verificação voltou, mas em escala menor.

4. Dúvidas sobre o futuro da empresa

Em Twitter Spaces com outros executivos do Twitter e anunciantes, Musk fez uma série de anúncios que, segundo a newsletter Platformer, "certamente eram novidade para as pessoas que em breve seria convocadas a construí-los."

Segundo ele, o número de usuários do Twitter está em seu pico histórico – o que pode parecer bom, mas na verdade não há muito mais monetização, considerando que muitos anunciantes pararam de comprar ads na plataforma por conta da confusão.

Na quinta (10.nov), Musk convocou uma reunião com toda a empresa com uma hora de antecedência. (Ele apareceu 15 minutos atrasado).

Musk disse que a depender da duração e intensidade da recessão norte-americana, o Twitter poderá perder bilhões de dólares em 2023.

Não só: Musk disse também que a “falência não está fora de cogitação”.

Para sair desse aperto, Musk aposta todas as suas fichas na receita em assinaturas, cujo principal chamariz é o selo azul de verificação.

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“Sem uma receita significativa de assinaturas, há uma boa chance de que o Twitter não sobreviva à retração econômica que se aproxima. Precisamos que cerca de metade da nossa receita venha de assinaturas”, disse ele à empresa.

Minutos depois de encerrada a reunião, Musk disparou um e-mail à equipe com o assunto “Prioridade máxima”, que seria encontrar e suspender qualquer perfil verificado que seja de robôs, spammers e trolls.

Nesta sexta-feira, a jornalista Zoë Schiffer, da Platformer, informou que o lançamento do Twitter Blue foi suspenso para tratar dos problemas de fakes, mas quem pagou continuaria com acesso aos benefícios. O serviço foi disponibilizado apenas para iPhones e seria disponibilizado para Android em breve.

Em uma coisa é possível concordar com Musk...

"O uso do Twitter continua a crescer. Uma coisa é certa: não é entediante!"
Por Sérgio Spagnuolo
Colaboraram Laís Martins, Rodrigo Ghedin, Luiza Bodenmüller e Lucas Lago
Edição Samira Menezes

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