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No contexto eleitoral de 2022 no Brasil, o Twitter admite a possibilidade de manter no ar tuítes que violem políticas da plataforma, aplicando, no lugar de penalidade com remoção, outras medidas restritivas – como rótulos e redução de alcance.

A remoção de conteúdo é apenas uma das ações de moderação possíveis para a plataforma, e a gravidade da situação e o contexto determinarão como a empresa vai agir, disse ao Núcleo o diretor de Políticas Públicas do Twitter na América Latina, Hugo Rodriguez Nicolat, em entrevista realizada em dezembro.

"Quando a gravidade for alta o bastante, nós removeremos o tuíte. Quando a avaliação for de que a situação está em violação da regra ou que talvez valha a conversa, nós aplicamos uma das muitas opções que expliquei: rótulos, redução da visibilidade e alertas", afirmou Nicolat.


É importante porque...
  • Plataformas foram escrutinizadas pelas decisões de manter ou remover publicações no processo das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2020
  • Não há consenso entre pesquisadores sobre a melhor maneira de abordar desinformação promovida por atores com grande visibilidade


Desde as últimas eleições presidenciais em 2018, houve inúmeras situações – no Brasil e fora – em que atores políticos usaram o Twitter para disseminar declarações falsas e enganosas sobre o processo eleitoral.

O papel do Twitter e de outras plataformas em dar visibilidade para conteúdos do tipo tem sido questionado. Apoiando-se na ideia de que a plataforma não deve arbitrar sobre a verdade e que usuários devem poder ver a conversa, o Twitter tem seguido o caminho de manter conteúdos violadores no ar, mas com a aplicação de rótulos.

A efetividade dessa abordagem, no entanto, não é unânime, em especial quando se trata de cenários eleitorais. Em uma análise publicada em agosto de 2021, pesquisadores da Harvard Kennedy School argumentaram que tuítes do ex-presidente dos EUA Donald Trump que receberam rótulos de alerta tiveram um alcance maior no Twitter do que aqueles sem rótulos.

A análise também demonstrou que tuítes que foram bloqueados pelo Twitter continuaram a repercutir em outras redes, como Reddit e Facebook, angariando mais visibilidade do que mensagens que foram rotuladas ou que não receberam nenhuma ação do Twitter.

Questionado sobre o estudo, o Twitter disse que é por isso que a rede trabalha com uma cesta de possíveis ações, em lugar de apostar em uma única via de enforcement (aplicação de regras).

Nicolat afirma que a empresa recentemente fez mudanças no design e colocação dos banners e que já foi possível ver "um impacto positivo na maneira como as pessoas compartilham e encaminham a informação".


PREPARAÇÃO PARA ELEIÇÃO

A preparação do Twitter Brasil para as eleições de 2022 começou em novembro de 2020, quando o país realizou eleições municipais. Nessa época teve início uma parceria da rede com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo Nicolat, foi a primeira vez que a empresa ativou uma parceria do tipo com tanta antecedência.

A parceria do Twitter com o TSE, que também trabalha junto a outras empresas, se dá em duas frentes:

  • Alavancagem do produto: Por exemplo, ao exibir um pop-up ou banner redirecionando para o site do TSE quando o usuário busca por algum termo ligado a eleição. Isso funciona geralmente para dias de votação mas também está disponível em outros períodos. De acordo com Nicolat, o TSE solicitou que esse recurso fosse ativado em algumas datas recentes devido a discussões sobre a legitimidade da urna eletrônica.
  • Treinamento e capacitação: Trabalho realizado junto a funcionários do TSE para garantir que todos saibam como usar o Twitter para monitorar conversas e para participar como ator relevante da conversa. Num segundo momento, esse treinamento poderá ser expandido para todos os atores que estejam participando do programa de combate à desinformação do TSE, informou Nicolat.

O Twitter também irá usar o algoritmo para elevar algumas fontes durante o período eleitoral, como autoridades e veículos jornalísticos – embora não tenha ficado claro quais serão os critérios exatos para definir quais vozes serão privilegiadas.

"O Twitter irá considerar os veículos de notícias mais reputáveis e credíveis que foram verificados com o selo azul" - Hugo Rodriguez Nicolat, do Twitter

"Obviamente, com uma combinação de fatores, ao digitar 'eleição', um conteúdo que vem de uma dessas fontes provavelmente terá prioridade no seu algoritmo", disse Nicolat ao Núcleo.

Mas é preciso delimitar mais claramente quais critérios serão usados para determinar veículos "reputáveis e credíveis", visto que mesmo dentre algumas fontes jornalísticas verificadas com o selo azul há veículos que propagam desinformação e informações enganosas.

Alvo de controvérsias pela pouca transparência nos critérios, o programa de verificação foi reformulado recentemente e passou a permitir que qualquer usuário do Twitter solicite o selo azul. A ferramenta ficará disponível para candidatos que queiram ter o selo, disse Nicolat.

"O objetivo do selo de verificação é certificar a autenticidade e propriedade dos perfis para que usuários saibam que estão falando a uma fonte confiável", explicou Nicolat. Em outras ocasiões, o Twitter já disse que o selo não é um endosso por parte do Twitter, embora usuários enxerguem a verificação dessa forma.

Conceder selo de verificação nas redes sociais continua uma bagunça
Os cobiçados selinhos azuis chegam a ser negados para jornalistas, mas podem ser concedidos a páginas e perfis que espalham desinformação

COMO FIZEMOS

O Núcleo entrevistou Hugo Rodríguez Nicolat, diretor de Políticas Públicas do Twitter na América Latina, em dezembro de 2021. Como a entrevista foi em inglês, as aspas foram traduzidas para o português.

Reportagem Laís Martins
Edição Sérgio Spagnuolo
Twitter/XEntrevista
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