Na reta final das eleições, divulgadores científicos usaram as redes para lembrar dos cortes nas pesquisas e da falta de investimento em áreas importantes, como educação e saúde, que marcaram o atual governo.
Uma série de problemas que vão além do menor repasse à ciência. A professora e coordenadora no Blogs de Ciências da Unicamp, Ana Arnt, lamentou a falta de critérios técnicos para o Plano de Ações Articuladas (PAR), o qual faz parte do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Alguém viu o repasse para a ciência?
Levantamentos recentes realizados pelo Sou Ciência, uma iniciativa da Unifesp, revelam que quase R$ 35 bilhões não foram repassados para a ciência durante o período de 2010 a 2021.
Com isso, diversos editais de fomento a pesquisa foram diretamente impactados e prejudicados, como comentou o professor e neurocientista Vinicius Ribas.
A situação se agrava ainda mais porque parte desse dinheiro vai para o pagamento das bolsas de pesquisa, que garantem que muitos pós-graduandos deem seguimento aos seus mestrados e doutorados.
A falta desse repasse também impossibilita os próprios projetos de pesquisa, como lembrou a professora da UFRGS, Marcia Barbosa.
O biomédico e divulgador científico Lucas Zanandrez, do canal Olá Ciência, reforçou que os cortes impedem a abertura de editais de apoio a pesquisa e inovação, prejudicando diretamente a ciência brasileira.
O neurocientista Stevens Rehen não deixou de notar que mesmo a arrecadação tendo crescido, o repasse para a ciência durante o governo Bolsonaro reduziu.
O biologista e mestrando em biodiversidade e conservação, Edenilson de Souza, reforçou que a solução de problemas que tanto assolam a nossa sociedade atual passa pela ciência, a qual precisa de investimento e que cortes sucessivos como os observados nos últimos anos comprometem diretamente a formação de novos cientistas e a continuidade de projetos de pesquisa relevantes para todos os setores da sociedade.
Nenhuma ciência avança sem investimento. Nenhuma sociedade sobrevive sem (resolver problemas por meio da) Ciência. Não consigo monitorar espécies ameaçadas em extinção, algumas essenciais para manutenção de serviços ecossistêmicos, sem o investimento em estratégias (cont.)
— Edenilson de Sousa 🐟⛏ (@paleoeddye) October 16, 2022
Política e ciência precisam conversar mais
Diante desse cenário e com o problema do negacionismo, a professora da UFRJ, Tatiana Roque, escreveu na última edição do Polígono, sobre a proposta de uma Bancada da Ciência no Congresso Nacional.
“O debate científico torna-se cada vez mais presente nas disputas sobre políticas públicas. Daí a importância de termos pessoas qualificadas debatendo o tema na arena política”, afirmou Roque.
De fato, quando ciência e política passam a conversar, decisões melhores têm mais chances de serem tomadas para o bem-estar e o progresso da sociedade.
Essa discussão, aliás, vem ganhando espaço em revistas científicas como a Nature Ecology & Evolution. Sim, cientista também tem que falar sobre política.
Porque investimento em ciência só traz vantagens.
No contexto da saúde, a iniciativa de divulgação científica Olá Ciência deu exemplos disso com uma série de cinco vídeos na temática "Saúde é investimento", pois não só ajuda a lidar com emergências de saúde pública como a reduzir reduzir os impactos das mudanças climáticas.