Golpismo é resultado direto de inércia das redes sociais

Passou da hora de as redes sociais pararem de se esconder atrás do argumento de liberdade de expressão
Golpismo é resultado direto de inércia das redes sociais
intervenção sobre fotografia de Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Linha Fina é uma coluna de opinião sobre mídia e jornalismo

Não há uma única pessoa que realmente acredite na democracia e que seja, ao mesmo tempo, contra a plena liberdade de expressão. Democracia e liberdade são coisas interdependentes, atacar um automaticamente significa atacar o outro.

Mas, nos últimos anos, notavelmente desde a ascensão de Donald Trump nos EUA, as redes sociais compraram o argumento esdrúxulo da extrema-direita acerca de "liberdade de expressão". Esse argumento, enraizado no cerne da política norte-americana, usa liberdade de expressão como escudo para defender que radiciais extremistas possam fazer e falar tudo, inclusive atentar contra a própria democracia que supostamente permitiria essa manifestação de pensamento.

O mesmo argumento permitiu o surgimento e o crescimento de influenciadores extremistas, que compartilham em seus megafones mensagens divisionistas e planejam insurreições abertamente – e ainda ganhando dinheiro com ads no caminho.

Passou da hora de as redes sociais pararem de se esconder atrás do argumento de liberdade de expressão imposto por um bando de deliquentes extremistas e decidirem se democracia é mais importante do que visualizações.

Moderação de extremismo, não de expressão, é a chave.

Têm culpa nisso tudo a Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp), o Google (com YouTube), o Twitter, o TikTok, o Telegram.

Das duas, uma: ou essas empresas permitiram a ascensão de uma comunicação integrada da extrema-direita, ou ainda permitem.

Conglomerados como Meta e Alphabet (Google e YouTube) tomaram ações nos últimos anos para conter extremismo e negacionismo científico. Mas isso aconteceu após anos de leniência, muitas vezes por conta de determinações judiciais. E, mesmo assim, essas ações parecem não ser suficientes.

Embora o Google, por exemplo, derrube vídeos golpistas em sua plataforma, basta que usuários tornem um vídeo não listado (como bem notou Guilherme Felitti, da Novelo Data) e voilá, a empresa aparentemente não consegue mais moderar esse vídeo.

A Meta também tem um sério problema de moderação. A empresa não consegue moderar com 100% de eficácia nem conteúdo de exploração sexual infantil (que o Núcleo descobriu em pelo menos sete grupos abertos, com mais de 40 mil membros), que dirá moderar tramas golpistas em grupos fechados.

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O TikTok é um problema à parte, já que o fluxo de conteúdo lá é tão gigantesco que a rede social aparentemente não tem ferramentas para monitorar com a devida atenção tudo o que é veiculado dentro dela.

Já o Telegram (ahhhh, o Telegram) é mais direto: permite descaradamente esse tipo de papo. Nem mesmo ordem judicial faz com que a plataforma tenha algum tipo de moderação mais ampla. Sim, o Telegram já derrubou grupos violentos e golpistas, mas geralmente por prazo limitado e apenas em território brasileiro.

Essas empresas cedem a argumentos de liberdade de expressão porque se julgam neutras. Afinal, é o usuário que publica conteúdo, não elas. Elas são apenas a ferramenta, certo?

Esse argumento é péssimo: seria como isentar autoridades municipais de não punirem motoristas bêbados – afinal, quem escolheu beber e dirigir foi o condutor, não a polícia ou o departamento de trânsito.

Edição Alexandre Orrico

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