Manifesto contra sites de notícia feios e poluídos

Embora seja evidente que o dinheiro tenha que vir de algum lugar, transformar o site em um aterro sanitário virtual não pode ser o único modelo possível
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Linha Fina é uma coluna de opinião sobre mídia e jornalismo


O Núcleo é um site bonito.

Sou suspeito, claro, mas com uma coisa você tem que concordar: aqui não tem poluição visual, pop-ups insistentes ou publicidade clickbait disfarçada de notícia.

É frustrante clicar em um link de matéria e vê-la esmagada entre propagandas. Mais desagradável ainda quando são banners da Taboola ou do Outbrain, duopólio

Estudo de 2016 da ong Change Advertising concluiu que 82% do top 50 de sites de notícias usam o sistema da Taboola ou Outbrain. No Brasil, O Globo, Folha, Metrópoles são alguns deles.

de anúncios online que se espalhou como um vírus em sites de notícias do planeta inteiro e que oferecem conteúdo apelativo de baixíssima qualidade.

Não é difícil encontrar matérias sobre a importância da ciência e falso tratamento precoce contra covid que ao fim apontem para anúncios sobre remédios obscuros para impotência e substâncias milagrosas que prometem emagrecimento. Sem comprovação científica, óbvio. Alguns dos títulos são (sem prints para não enfeiar nosso site):

É difícil financiar jornalismo (a gente sabe disso em primeira mão), e qualquer forma de financiamento precisa ser estudada e analisada. Mas, embora seja evidente que o dinheiro tenha que vir de algum lugar, me recuso a acreditar que transformar o site em um aterro sanitário virtual seja o único modelo possível.

Equipes ralam para apurar fatos e contar boas histórias, mas quando as matérias vão ao ar, são rodeadas de obstáculos que confundem o leitor e podem servir de porta de entrada para um buraco negro de desinformação.

Segundo o estudo Digital News Report, do Instituto Reuters, no Brasil apenas 54% das pessoas acreditam em notícias a maior parte do tempo. Será que partezinha deste índice, em queda livre nos últimos anos, não pode ser culpa dos sites construídos meticulosamente para confundir?

Gostamos de reclamar muitas vezes que o leitor não entende o conteúdo que produzimos e que muita gente não sabe nem diferenciar opinião de reportagem. Mas fica difícil culpá-los, já que grande parte do setor age dia e noite para confundir notícias com publicidade.

Uma parcela crescente de pessoas com acesso à internet se incomoda com essa estratégia de monetização. Previsão da eMarketer diz que ao fim de 2021 cerca de 27% dos usuários de internet terão algum tipo de bloqueador de propagandas em seus navegadores. E em pesquisa da GlobalWebIndex, usuários de ad blocking disseram que há muitos anúncios online ou que eles acham os anúncios irritantes. Alguns acham que os anúncios são muito intrusivos e ocupam muito espaço na tela.

O jornalismo passa por uma crise de financiamento, além da crise de confiança, e um dos pontos sensíveis é o modelo de negócios centrado no volume, no grande fluxo de cliques, o que leva a soluções rápidas, venenosas e feias.

Qual a melhor solução então? Não sei. Gente muito mais gabaritada estuda e experimenta novos modelos há tempos, do New York Times ao Guardian, passando por startups brasileiras, claro, que tentam pensar em monetização de conteúdo jornalístico de um jeito que tem mais a cara do século 21, com apostas em tecnologia e construção de comunidades fortes, como Jota, Intercept, AzMina, Ponte e Alma Preta, inspirações pra gente.

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